Sociólogos da Educação


SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO
PRINCIPAIS SOCIÓLOGOS DA EDUCAÇÃO

1- Karl Marx (1818-1883)


“Não é a consciência do homem que lhe determina o ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.” (Karl Marx)


Educação e alienação

O processo de alienação tem sua origem, em Marx na divisão do trabalho, que se desenvolve quanto menor é a tarefa atribuída a cada indivíduo. É a partir desta perspectiva que a especialização do trabalho realizado pelo professor e aluno pode ser compreendida. A divisão do trabalho surge na sociedade como parte de um complexo que inclui divisões de classes, trocas e propriedade privada. A alienação aparece sempre que a divisão do trabalho é o princípio operacional da organização econômica. Diante desta análise, podemos afirmar que a escola se caracteriza como uma fábrica? Se a afirmação for verdadeira, quais os produtos realizados no espaço escolar que podem comprovar tal afirmação? Para encontrarmos tais evidências, partimos de duas dimensões principais: o professor e o aluno.

O professor, um trabalhador comum, cujos produtos são, num sentido, seus alunos mas na situação em que trabalha, o que faz simplesmente afirma o caráter desses alunos como produtos capitalistas. As relações sociais do aluno e professor são, assim, correlacionadas internamente, havendo uma contradição inerente no caso, porque um professor não é apenas um produtor, mas também um empregado daqueles que desejam
reproduzir a sociedade, isto é seu status quo. Alguns professores se consideram como membros da burguesia, mesmo os professores que se consideram como proletários podem envolver-se em ações que são contrárias aos seus interesses. Talvez seja devido a esse tipo de contradições que a situação de sala de aula é vista, com freqüência, como de conflito.

Marx argumenta que é da natureza do homem produzir objetos nos quais ele se reflete, porém esses objetos lhe são tomados pela lógica da produção vigente. Ele é incapaz de ser dono do produto de seu trabalho, e se torna estranho à sua própria criação, que o enfrenta como algo hostil e alheio. Essa alienação do homem e seu produto também implicam a sua alienação em relação aos outros homens.

Professores e alunos, no interior da ordem capitalista, são considerados em termos daquilo que podem produzir, e, portanto, as produções consideradas como valiosas são aquelas que podem ser avaliadas com facilidade. Muitos alunos sofrem as pressões das notas, pontos, exames, qualificações. O processo envolvido na atribuição de notas e avaliação influencia também os professores, afetando suas relações, a maneira pela qual lecionam e o próprio currículo. Os professores podem ser considerados ao mesmo tempo como trabalhadores e como mercadorias em produção. Dentro da escola, o aluno tem também um potencial de trabalho. Ao trocar o produto de seu trabalho por objetos na forma de pontos, notas, ou diplomas e certificados, podemos compará-los aos salários, ou recompensa.

A atividade dos alunos na escola, portanto, é uma relação e expressão da atividade na sociedade. Como outros trabalhadores, o aluno tem necessidade de objetos para realizar seus poderes, mas não dispõe da oportunidade de adquirir esses objetos. Nesse processo, os alunos são transformados em produtos ou mercadorias a serem vendidas no mercado.

Os alunos são categorizados apenas em termos de certas características que os estudantes ideais devem ter: interesse, disciplina, capacidade, inteligência.

A divisão do trabalho, no interior da produção capitalista, deu-se ao separar o trabalho manual do trabalho intelectual, implicando todas as suas contradições, como o acesso ao trabalho assalariado, tempo livre e a um tipo de educação.

O produto do trabalhador, o conhecimento, é, com freqüência estranho aos estudantes, que não o podem usar, é, com freqüência demasiado limitado, especializado, não relacionado, abstrato. O aluno não tem controle sobre o que ele faz, ou o que é feito do produto. O "conhecimento" cresce em poder na medida em que os alunos gastam o que dele dispõem, e até adquire qualidades, devidamente modificadas, que o estudante perde.

Os alunos podem perder confiança e se considerarem como simples "apêndices" de seus
produtos. Assim, gradualmente, o "conhecimento" começa a controlar os produtores.

No trabalho alienado, o produto do Homem existe fora dele, independentemente, como alguma coisa alheia a ele e que se torna um poder em si mesmo, que o enfrenta. O aluno não tem controle sobre o que ele faz, ou o que é feito do produto. O "conhecimento" cresce em poder na medida em que os alunos gastam o que dele dispõem, e até adquire qualidades, devidamente modificadas, que o estudante perde. Os alunos podem perder confiança e se considerarem como simples "apêndices" de seus produtos; assim, gradualmente, o "conhecimento" começa a controlar os produtores. A propriedade privada é a expressão material do trabalho alienado.

O cerne da crítica à educação burguesa, parti da alienação do processo de produção e da fragmentação da atividade do homem e do estranhamento do próprio homem.
Na sociedade da mercadoria, o trabalho é coercivo não devido à sua natureza, mas devido às condições históricas sob as quais é realizado. Nas condições da economia capitalista, a troca de mercadorias consiste no fenômeno mais banal e elementar, cuja produção é realizada em circunstâncias tão alienadoras que o trabalho e a atividade criativa do homem torna-se um processo de desumanização. Para Kosik (p. 78), o homem vive constantemente entre a autenticidade e a não-autenticidade, devendo haver cotidianamente um esforço intelectual para libertar-se de uma existência que não lhe pertence, mas que lhe é imposta pelas relações de produção.

Historicamente, as limitações intelectuais, da classe operária, foram impostas pelas condições do trabalho industrial, exigindo um componente subversivo para que o trabalhador, no interior das contradições da ordem burguesa, alcance sua consciência.

A educação burguesa ignora a sensibilidade do aluno, interessada exclusivamente pela suas capacidade de produção, impondo a ela uma concepção do trabalho produtivo.


Leia mais sobre o assunto:




2- DURKHEIM (1858-1917)


GRANDES PENSADORES - Durkheim
O criador da sociologia da educação
Para o sociólogo francês, a principal função do professor é formar cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social.
revistaescola.abril.com.br/edicoes/Esp_022/aberto/criador-sociologia-educacao-349588.shtml 
Arthur Guimarães, Heloisa Gomyde
Revista Nova Escola- Outubro/2003


Em cada aluno há dois seres inseparáveis, porém distintos. Um deles seria o que o sociólogo francês Émile Durkheim chamou de individual. Tal porção do sujeito o jovem bruto , segundo ele, é formada pelos estados mentais de cada pessoa. O desenvolvimento dessa metade do homem foi a principal função da educação até o século 19. Principalmente por meio da psicologia, entendida então como a ciência do indivíduo, os professores tentavam construir nos estudantes os valores e a moral. A caracterização do segundo ser foi o que deu projeção a Durkheim. "Ele ampliou o foco conhecido até então, considerando e estimulando também o que concebeu como o outro lado dos alunos, algo formado por um sistema de idéias que exprimem, dentro das pessoas, a sociedade de que fazem parte", explica Dermeval Saviani, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas.

Dessa forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo processo educativo. Para ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja inserida.

Nessa concepção durkheimiana, também chamada de funcionalista as consciências individuais são formadas pela sociedade. Ela é oposta ao idealismo, de acordo com o qual a sociedade é moldada pelo "espírito" ou pela consciência humana. "A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios sejam morais, religiosos, éticos ou de comportamento que balizam a conduta do indivíduo num grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela", escreveu Durkheim.

Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo. "Todo o passado da humanidade contribuiu para fazer o conjunto de máximas que dirigem os diferentes modelos de educação, cada uma com as características que lhe são próprias. As sociedades cristãs da Idade Média, por exemplo, não teriam sobrevivido se tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe é dado atualmente", exemplificou o pensador.

Bem-estar social e formação do cidadão

Durkheim não desenvolveu métodos pedagógicos, mas suas idéias ajudaram a compreender o significado social do trabalho do professor, tirando a educação escolar da perspectiva individualista, sempre limitada pelo psicologismo idealista influenciado pelas escolas filosóficas alemãs de Kant (1724-1804) e Hegel (1770-1831). "Segundo Durkheim, o papel da ação educativa é formar um cidadão que tomará parte do espaço público. Não somente o desenvolvimento individual do aluno", explica José Sérgio Fonseca de Carvalho, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Nas palavras de Durkheim, "a educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no seu conjunto". Tais exigências, com forte influência no processo de ensino, estão relacionadas à religião, às normas e sanções, à ação política, ao grau de desenvolvimento das ciências e até mesmo ao estado de progresso da indústria local.

Se a educação for desligada das causas históricas, ela se tornará apenas exercício da vontade e do desenvolvimento individual, o que para ele era incompreensível: "Como é que o indivíduo pode pretender reconstruir, por meio do único esforço da sua reflexão privada, o que não é obra do pensamento individual?" E ele mesmo respondeu: "O indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende. E não poderá sabê-la sem ir à escola, começando por observar a matéria bruta que está lá representada." Por tudo isso, Durkheim é também considerado um dos mentores dos ideais republicanos de uma educação pública, monopolizada pelo Estado e laica, liberta da influência do clero romano.

Ação educativa e autoridade do professor

Durkheim sugeria que a ação educativa funcionasse de forma normativa. A criança estaria pronta para assimilar conhecimentos e o professor bem preparado, dominando as circunstâncias. "A criança deve exercitar-se a reconhecer [a autoridade] na palavra do educador e a submeter-se ao seu ascendente; é por meio dessa condição que saberá, mais tarde, encontrá-la na sua consciência e aí se conformar a ela", propôs ele. "Em Durkheim, a autonomia da vontade só existe como obediência consentida", diz Heloísa Fernandes, da Faculdade de Ciências Sociais da USP. O sociólogo francês foi criticado por Piaget (1896-1980) e Bourdieu (1930-2002), defensores da idéia de que a criança determina seus juízos e relações apenas com estímulos de seus educadores, sem que estes exerçam, necessariamente, força autoritária sobre ela.

Época de efervescência científica e política

A segunda metade do século 19 marca o nascimento de algumas ciências humanas, como Antropologia, Sociologia, Psicanálise e Lingüística. Charles Darwin (1809-1882), Karl Marx (1818-1883) e Sigmund Freud (1856-1939), para citar apenas alguns clássicos, estavam formulando as idéias que reorientariam o pensamento mundial mais tarde, assim como fez Durkheim no campo da Sociologia. A França vivia um período de conflitos parte da região da Lorena, onde Durkheim nasceu, foi tomada pela Alemanha em 1871, o que levou à guerra entre os dois países. Nesse mesmo ano, foi proclamada a Terceira República Francesa, que implantou medidas políticas inovadoras, como a instituição da lei do divórcio. Na educação, devido também à influência das concepções de Durkheim, a Terceira República trouxe a obrigatoriedade escolar para crianças de 6 a 13 anos e a proibição do ensino religioso nas escolas públicas, ideais que até hoje estão entre os pilares educacionais naquele país. Tais transformações foram fundamentais para a preocupação de Durkheim com a formação de professores para a nova escola laica republicana. Ele viveu também no período da chamada Segunda Revolução Industrial, quando o motor de combustão interna, o dínamo, a eletricidade, o telégrafo e o petróleo tomaram a atenção do mundo todo. Morreu durante a Primeira Guerra Mundial, no ano da Revolução Russa.

Durkheim e a educação: padrão social

A elaboração, adoção e socialização dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) foi uma grande conquista para a educação brasileira. Houve padronização na indicação dos conteúdos curriculares e uma clara demonstração do que o governo espera dos jovens que deixarão os bancos escolares nos próximos anos. Para o professor Dermerval Saviani, da Unicamp, esse fato tem certa relação com as concepções de Durkheim. "Os currículos são sugeridos para todos. Esses documentos mostram as necessidades da sociedade. Agora, cabe aos estabelecimentos de ensino pegar essas indicações e moldá-las aos estudantes", explica. "A idéia de fundo é colocar as pessoas certas nos lugares certos, onde a comunidade precisa", diz.

Biografia

"A educação tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança estados físicos e morais que são requeridos pela sociedade política no seu conjunto"

"A sociedade e cada meio social particular determinam o ideal que a educação realiza"

Émile Durkheim nasceu em 15 de agosto de 1858, em Epinal, no noroeste da França, próximo à fronteira com a Alemanha. Era filho de judeus e optou por não seguir o caminho do rabinato, como era costume na sua família. Mais tarde declarou-se agnóstico. Depois de formar-se, lecionou Pedagogia e Ciência Social na Faculdade de Letras de Bordeaux, de 1887 a 1902. A cátedra de Ciência Social foi a primeira da Sociologia em uma universidade francesa e foi concedida justamente àquele que criaria a "Escola Sociológica Francesa". Seus alunos eram, sobretudo, professores do ensino primário. Durkheim não repartiu o seu tempo nem o pensamento entre duas atividades distintas por mero acaso. Abordou a Educação como um fato social. "Estou convicto que não há método mais apropriado para pôr em evidência a verdadeira natureza da Educação", declarou. A partir de 1902, foi auxiliar de Ferdinand Buisson na cadeira de Ciência da Educação na Sorbonne e o sucedeu em 1906.
E estava plenamente preparado para o posto, pois não parara de dedicar-se aos problemas do ensino. Dentro da Educação moral, psicologia da criança ou história das doutrinas pedagógicas, não há campos que ele não tenha explorado. Morreu em 15 de dezembro de 1917, supostamente pela tristeza de ter perdido o filho na guerra, no ano anterior.

Para pensar

Durkheim dizia que a criança, ao nascer, trazia consigo só a sua natureza de indivíduo. "A sociedade encontra-se, a cada nova geração, na presença de uma tábua rasa sobre a qual é necessário construir novamente", escreveu. Os professores, como parte responsável pelo desenvolvimento dos indivíduos, têm um papel determinante e delicado. Devem transmitir os conhecimentos adquiridos, com cuidado para não tirar a autonomia de pensamento dos jovens. A proposta de Durkheim levará o aluno a avançar sozinho? Esse modelo de formação externa contraria a independência nos estudos?
Ou será uma condição para que a educação cumpra seu papel social e político?

3- MAX WEBER ( 1864-1920)

SOCIEDADE, EDUCAÇÃO E DESENCANTAMENTO

As sociologias de Durkheim e Marx, já vimos, partiram da idéia de que só é possível compreender as relações entre os homens se compreendermos a sociedade que os obriga, em níveis e em medidas diversas, a agir de acordo com forças estranhas a suas vontades individuais, e impositivas com relação a elas. (...) (p.51).

- Para Durkheim a educação é o mecanismo pelo qual o indivíduo torna-se membro da sociedade.
- Para Marx a sociedade é um mecanismo que, conforme o conteúdo de classe, pode ser utilizado para oprimir ou para emancipar o homem.

A sociologia de Max Weber (1864-1920) aponta para outra compreensão: A sociedade não é apenas uma “coisa” exterior e coercitiva que determina o comportamento dos indivíduos, mas o resultado de inúmeras interações interindividuais. A sociedade não é aquilo que pesa sobre os indivíduos, mas aquilo que se veicula entre eles.

WEBER E O PENSAMENTO SOCIOLÓGICO

×                      A sociologia weberiana gira em torno do conceito de “ação social” e do postulado de que a sociologia é uma ciência “compreensiva”.
×                      Diferentemente das ciências naturais, para as quais os acontecimentos são relativamente independentes do cientista que os analisa, nas ciências sociais os acontecimentos dependem fundamentalmente da postura e da própria ação do investigador. = A realidade não é uma coisa em si. Ela ganha um determinado rosto conforme o olhar que você lança sobre ela.
×                      Weber se recusa a tratar os “fatos” sociais como se fossem “coisas”. Para ele, as coisas que eu vejo podem ser diferentes das coisas que você vê; pode ser também que as coisas que eu vejo não são coisas para você. A razão disso é que os homens vêem o mundo que os cerca a partir de seus valores.
×                      Os valores são compartilhados, mas são introjetados (subjetivados) de modos distintos, conforme o processo de interação em que o indivíduo está inserido.
×                      Como Weber concebe a realidade? Como o encontro entre os homens e os valores aos quais eles se vinculam e os quais articulam de modos distintos no plano subjetivo.

×                      As ciências sociais (que Weber chama de ciências da cultura) são vistas como a possibilidade de captação da interação entre homens e valores no seio da vida cultural (captação da ação social)

×                      Para Weber, como a realidade é infinita, apenas um fragmento de cada vez pode ser objeto do conhecimento. O “todo” (a sociedade) que supostamente pesaria sobre as partes (os indivíduos) é incompreensível se for tratado como um todo, como uma coisa. Este todo reside na interação entre as partes e não é possível conhecer todas elas ao mesmo tempo, porque são muitas e porque se renovam a cada dia.

×                      A sociedade, em Weber, não é um bloco, mas uma teia.

×                      Na seleção do fragmento a ser investigado estarão presentes os valores do investigador, que faz parte dessa sociedade ou de alguma outra. Trata-se de um processo subjetivo que não compromete a objetividade do conhecimento, desde que o investigador leve em conta, na interpretação das ações e relações, os valores que ele atribui ao próprio ator social (aquele que pratica a ação) e não os seus próprios valores (do investigador).

×                      O que pode ser concluído das idéias até agora expostas?
- O trabalho científico é inesgotável, porque o real o é, bem como fragmentário e especializado.
- O objeto das ciências da cultura será a decifração da significação (o sentido) da ação social (as condutas humanas). A única maneira de estudar esse objeto é a compreensão.

Diz o autor que Weber era um pessimista radical, porque: ele achava que o tipo de vida imposto às pessoas no mundo moderno fazia com que a educação deixasse de formar o homem, para simplesmente prepará-lo para desempenhar tarefas na vida.

×                      Definição da sociologia compreensiva de Weber...
Ponto de partida: o que é ação social? A ação social ocorre quando um indivíduo leva os outros em consideração no momento de tomar uma atitude, de praticar uma ação.

×                      Agir em sociedade implica um certo grau de racionalidade por parte de quem age, e implica no fato de que esta racionalidade de cada indivíduo sempre está referida aos outros indivíduos que os cercam. (Pensamento fundamental para entender Weber).

×                      Ação social racional com relação a fins/ Comportamento racional com relação a fins – é aquele que se orienta por meios tidos como adequados (subjetivamente) para obter fins determinados, fins estes tidos como indiscutíveis pelo indivíduo (subjetivamente). Exemplo: Vou à escola pensando em me formar e ganhar dinheiro.
×                      Ação social com relação a valores: orienta-se pelos valores familiares ou pelo modo como os incorporamos à nossa hierarquia de valores. Exemplo: Vou à escola porque minha formação familiar deu muita importância aos estudos.
×                      Ação social afetiva: Tipo de comportamento no qual somos irracionais. Exemplo: Vou à escola por causa dos amigos, dos professores ou da namorada/namorado.

×                      Qual, então, é a racionalidade perfeita para Weber?
É a adequação entre os meios de que você se vale para agir e os fins que você objetiva alcançar com esta ação.
Na ação afetiva não levamos em consideração objetivos a serem alcançados nem buscamos utilizar dos melhores meios para isso.

×                      Esses tipos de ação não aparecem separados no dia-a-dia. (As razões para ir a uma escola se misturam). O método de Weber consiste em isolar esses tipos “puros” de comportamento. Weber sabe que na prática empírica os tipos puros não existem, mas os constrói para que sirvam de referência.

Weber sistematiza um dos mais importantes métodos de investigação das ciências sociais/ Passo a passo:

1.      Construir um tipo ideal “puro” (Weber construía vários tipos de ação social, tipos de dominação política etc). O tipo é uma construção mental feita na cabeça do investigador, a partir da vários exemplos históricos. Ele é um exagero de perfeição que jamais será encontrado na prática.
2.      Olhar o mundo social que o cerca, esta teia inesgotável de eventos e processos, e selecionar dele o aspecto a ser investigado (não dá para ser tudo, tem que ser uma coisa de cada vez)
3.      Comparar o mundo social empírico como o tipo ideal construído. Aspecto a observar: Ideal não significa desejado, idealizado, idealizar o que seria uma sociedade perfeita. Significa que escolhemos as características mais “puras” dos tipos. (Para Weber, os tipos mais puros de conduta são os mais racionais, no sentido de adequação entre meios e fins).
4.      À medida que descrevemos o quanto a realidade se aproxima ou se distancia do tipo puro que construímos, essa realidade se apresenta a nós, se revela em seu caráter mais complexo; os comportamentos vêm à luz revelando a racionalidade e a irracionalidade que os tornou possíveis.

É assim que a ação social racional com relação a fins (aquele caso hipotético em que o indivíduo realizaria um cálculo perfeitamente racional) serve exatamente para que se possa avaliar o alcance, na prática, daquilo que é irracional com relação aos fins a que se propõe aquele que pratica a ação. (...) (pp.56-57).

×                      Comportamento subjetivo em Weber não se restringe ao comportamento psíquico. Comportamento subjetivo é comportamento do sujeito da ação, e nenhuma ação é social se não se referir ao comportamento dos outros sujeitos e dos obstáculos que todos enfrentam para levar as suas ações até as últimas conseqüências. Aquilo que é mental, exclusivamente psíquico, para Weber é incompreensível do ponto de vista da sociologia.

×                      O que seria, então, a sociologia compreensiva?

É a sociologia que se refere à análise dos comportamentos movidos pela racionalidade dos sujeitos com relação aos outros.

Para Weber:

- Os comportamentos dos atores são interpretados como sendo dotados de intencionalidade, como sendo ações propriamente ditas.
- O indivíduo constitui o único portador de um comportamento provido de sentido, de intencionalidade. Conceitos como Estado, capitalismo ou Igreja reduzem-se a categorias que se referem a determinados modos de o homem agir em sociedade.
- A tarefa da sociologia é interpretar este agir de modo que ele se torne um agir compreensível, e isto significa, sem exceção, um agir de homens que se relacionam uns com os outros.

O INDIVÍDUO E AS INSTITUIÇÕES SOCIAIS

×                      Para Weber, o indivíduo, no momento do agir, leva em consideração o comportamento dos outros: é isso que faz da ação, uma ação social. Além disso, as normas sociais influenciam o agir do indivíduo na mesma medida em que são resultados do agir dos próprios indivíduos ao longo do tempo. Como entender o funcionamento disso? à Vendo como Weber distingue os conceitos de “comunidade” e “sociedade”.

×                      Para Weber:
- Agir em comunidade é aquele agir que se baseia nas expectativas que temos com relação ao comportamento dos outros. O agir em comunidade explica-se pela existência objetiva de uma maior ou menor probabilidade de que tais expectativas sejam fundamentadas. Quando agimos racionalmente, esperamos que os outros também ajam assim, para que possamos calcular as possibilidades reais de levarmos nossos objetivos até o fim. O agir em comunidade também pode se fundamentar na expectativa de que os outros dêem determinado peso a certos valores e crenças, ou então na expectativa de que os outros se comportem de um modo regular, na média dos comportamentos geralmente usados para aquela situação. Ou, ainda, de que se comportem de modo emotivo, irracional.

EM RESUMO: Agir em comunidade é comportar-se com base na expectativa de que os outros também se comportem de um determinado modo.
- Agir em sociedade é um agir no qual as expectativas se baseiam nos regulamentos sociais vigentes. Exemplo: acredito que alguém não vai matar sua mãe, não apenas porque imagino que goste dela, mas porque tem certeza de que os assassinos são condenados e presos pelo sistema legal vigente. Além de pouco afetivo, praticar este ato seria bastante irracional.

(...) No agir em sociedade, além do indivíduo orientar-se por este tipo de expectativa baseada nos regulamentos, supõe-se que tais regulamentos tenham sido feitos justamente com o objetivo de que os homens ajam segundo suas determinações, e não de outra maneira. (...) (pp.58-59) Exemplo: se um homem praticar sexo com uma menor de 14 anos, não apenas poderá ser malvisto na vizinhança, como pode ser preso.

×                      Quando o indivíduo calcula que é melhor agir com base nas regras também porque os outros agem igualmente segundo as regras, ele está agindo em sociedade.

×                      As regras funcionam como uma espécie de condensação de expectativas recíprocas e tornam o universo social organizado e inteligível pelos atores individuais. Quando isso ocorre, Weber diz que existe uma ordem social.

×                      A validade da norma não se baseia apenas nas expectativas recíprocas. Quanto mais disseminada socialmente estiver a convicção de cada um de que as regras são obrigatórias para eles, melhor fundamentadas serão as expectativas de uns com relação ao comportamento dos outros.

×                      Em busca de seus objetivos e levando em consideração a existência das normas, o ator social pode deliberadamente fazer parte de uma coletividade orientada de modo comum por estes referenciais. A esta coletividade Weber dá o nome de associação racional com fins.
×                      Uma associação com fins, definida pela existência de regras gerais e de órgãos próprios, quando plenamente desenvolvida, não é uma formação social efêmera. Mesmo renovando-se os sócios a associação permanece, na medida em que as regras e os órgãos permaneçam. Quando isso ocorre, Weber diz que as associações humanas se institucionalizaram.

×                      A vida comum em associações permite que sejamos capazes de prever quais serão os passos mais prováveis das outras pessoas; ela torna inteligível o mundo que nos cerca. à Quanto mais as pessoas assimilam subjetivamente a obrigatoriedade das regras, mais a previsibilidade aumenta. A institucionalização se completa quando as pessoas aceitam este quadro normativo.

×                      A sociologia de Weber nos faz pensar que embora estejamos obrigados a agir conforme um pacote de regras que regulam a nossa vida, é preciso considerar que essas regras (todas as regras e não apenas as leis e os decretos) foram criadas por indivíduos como nós, em tempos passados, e continuam a ser criadas; e também que elas estão ai para serem mudadas, e portanto todos nós participamos disso.

×                      Para Weber, historicamente, as associações políticas humanas, e o Estado em particular, passaram por um processo de institucionalização. Nesse processo, as regras foram se tornando cada vez mais racionais, foram sendo feitas com vistas a fins específicos e estabelecendo os meios mais adequados para levá-los a cabo (punições em dinheiro ou reclusão).

×                      Quando as pessoas obedecem às regras não apenas porque temem a punição, mas também porque estão convencidas da necessidade de obedecer, porque introjetaram a norma, Weber diz que a dominação baseia-se no consenso da legitimidade.

O que guardar de tudo o que foi dito até agora?

O fundamental não é o fato dos homens serem coagidos, mas sim o fato de agirem racionalmente, e de que esta racionalidade os faz consentirem com a dominação à qual estão sujeitos, para que possam com isso ganhar condições de previsibilidade com relação à ação dos outros homens que estão também sujeitos à mesma relação de dominação e, em decorrência, possam viver em sociedade.

DESENCANTAR O MUNDO

Para Weber, com a institucionalização: o estabelecimento de uma ordem social “com relação a fins” vai se tornando cada vez mais amplo. O consenso aí construído é obtido mediante regras e mediante coação, e uma crescente transformação com relação a fins se opera na sociedade. (Sentido histórico que Weber chama de racionalização).

A história humana, segundo ele, é um processo de crescente racionalização da vida, de abandono das concepções mágicas e tradicionais como justificativas para o comportamento dos homens e para a administração social. (...) (p.62)

O pensamento acima nos ajuda a compreender o sentido de uma tipologia de Weber sobre os três tipos puros de dominação:

  1. - A dominação tradicional: legitimidade baseada na tradição.
  2. - A dominação carismática: legitimidade baseada no carisma do líder.
  3. - A dominação racional-legal: legitimidade baseada na lei e na racionalidade (adequação entre os meios e fins) que está por trás da lei.

×                      Se a associação estatal passa por um processo de racionalização, as formas de dominação no Ocidente caminham, tendencialmente, para o tipo racional-legal.

×                      Recapitulando para compreender melhor a idéia de racionalização... à A sociologia de Max Weber parte da ação e da interação dos indivíduos como constitutivas da sociedade. Quanto mais complexas as sociedades (maior sua racionalização), maior o número de regulamentos sociais a serem obedecidos. Quanto mais complexa a sociedade, mais conflitiva tende a ser a interação entre os indivíduos e grupos, uma vez que maiores serão as “constelações de interesses” que se contrapõem e maior também a necessidade de regulamentá-los. Para Weber a complexificação gera conflito, o que por sua fez gera a necessidade da regra.
(...) O ingresso dos indivíduos nesta grande associação, na qual estão obrigados a submeter-se ao poder já instituído, não é voluntário, e as regras são feitas, diz ele, por meio da força, da imposição da vontade de alguns indivíduos e grupos sobre outros indivíduos e grupos: uns mandam, outros obedecem (A esse processo Weber chama de dominação).

×                      Para legitimar-se (= garantir a aceitação dos comandados) a dominação se baseia na tradição, no carisma do líder ou na forma do direito racional.

Implicações do pensamento de Weber para a educação:
A educação, para Weber, é o modo pelo qual os homens são preparados para exercer as funções que a transformação causada pela racionalização da vida lhes colocou à disposição.

×                      A lógica da racionalidade, da obediência à lei e do treinamento das pessoas para administrar as tarefas burocráticas do estado foi aos poucos se disseminando. Na formação do Estado moderno e do capitalismo moderno, que são inseparáveis um do outro, Weber dá especial atenção a dois aspectos: de um lado, a constituição de um direito racional, um dos pilares do processo de racionalização da vida, e de outro, a constituição de uma administração racional em moldes burocráticos. O direito racional oferece as garantias contratuais e a codificação básica das relações de troca econômica enquanto eu o desenvolvimento da empresa capitalista moderna oferece o modelo para a constituição da empresa de dominação política própria do capitalismo, o Estado burocrático. (p.64)

×                      A educação sistemática, para Weber, passou a ser “pacote” de conteúdos e de disposições voltados para o treinamento de indivíduos que tivessem de fato condições de operar essas novas funções, de “pilotar” o Estado, as empresas e a própria política, de um modo “racional”. Um dos elementos essenciais na constituição do Estado moderno é a formação de uma administração burocrática em moldes racionais. (...) (p.64) Esse processo só ocorreu de modo completo no Ocidente, com a substituição paulatina de um funcionalismo não especializado por um mais especificamente treinado e politicamente orientado com base em regulamentos racionais.

×                      O Oriente aparece como protótipo da administração irracional, pois esteve baseada na concepção mágica de que a virtude do Imperador (Exemplo da China) e dos funcionários, de sua superioridade em matéria literária, para governar.

×                      O capitalismo moderno prosperou no Estado racional. Este se funda na burocracia profissional e no direito racional.

TREINAR, EM VEZ DE CULTIVAR O INTELECTO

Para Weber:
×                      A racionalização e a burocratização alteraram radicalmente os modos de educar. Alteraram também o status, o reconhecimento e o acesso a bens materiais por parte dos indivíduos que se submetem à educação sistemática.

×                      Educar no sentido da racionalização passou a ser fundamental para o Estado, porque ele precisa de um direito racional e de uma burocracia montada em moldes racionais.


×                      Educar no sentido da racionalização também passou a ser fundamental para empresa capitalista, pois ela se pauta na lógica do lucro, do cálculo de custos e benefícios, e precisa de profissionais treinados para isso.

(...) Mais que profissionais da empresa ou da administração pública, o capitalismo e o Estado capitalista forjaram um novo homem: um homem racional, tendencialmente livre de concepções mágicas, para o qual não existe mais lugar reservado à obediência que não seja a obediência ao direito racional. Para este homem, o mundo perdeu o encantamento. Não é mais o mundo do sobrenatural e dos desígnios de Deus ou dos imperadores.É o mundo do império da lei e da razão. Educar num mundo assim, certamente não é o mesmo que educar antes dessa grande transformação, provocada pelo advento do capitalismo moderno. (pp.65-66).

×                      Educação, na medida em que a sociedade se racionaliza, historicamente, torna-se um fator de estratificação social, um meio de distinção, de obtenção de honras, de poder e de dinheiro.

×                      No modelo ideal weberiano a educação é socialmente dirigida a três tipos de finalidades:
1.      Despertar o carisma (não constitui propriamente uma pedagogia, pois não se aplica a pessoas comuns, mas apenas àquelas capazes de revelar qualidades mágicas ou dons heróicos: ascetismo mágico antigo e dos heróis guerreiros da Antiguidade e do mundo medieval, que eram educados para adquirir uma “nova alma”, renascer);
2.      Preparar o aluno para uma conduta de vida (Weber chama de pedagogia do cultivo, pois procura formar um tipo de homem que seja culto, onde o ideal de cultura depende da camada social para a qual o indivíduo está sendo preparado, e que implica em prepará-lo para certos tipos de comportamento interior e exterior);
3.      Transmitir conhecimento especializado (Pedagogia do treinamento: Com a racionalização da vida social e a crescente burocratização do aparato público de dominação política e dos aparatos próprios às grandes corporações capitalistas privadas, a educação deixa paulatinamente de ter como meta a qualidade da posição do homem na vida e torna-se cada vez mais um preparo especializado com o objetivo de tornar o indivíduo um perito).

Para Weber, além de minimizar a formação humanística de caráter mais integral, a educação racionalizada (pedagogia do treinamento), continua a ser usada como mecanismo de ascensão social e de obtenção de status privado.

O capitalismo reduzia tudo, inclusive a educação, à mera busca por riqueza material e status.

Marx via no capitalismo a escravidão do ser humano por meio da alienação do trabalho, e na educação a possibilidade de romper com ela. Weber via na pedagogia do treinamento imposta pela racionalização da vida, o fim da possibilidade de desenvolver o talento humano, em nome da preparação para a obtenção de poder e dinheiro. A racionalização é inexorável, invencível, e a educação especializada, a lógica do treinamento, para Weber, também é. Para ele, não há nada que se possa fazer a respeito. (p.69).

BIBLIOGRAFIA
RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação.  Rio de Janeiro:DP&A, 2000.




4- ANTONIO GRAMSCI (1891-1937)


Frases de Antonio Gramsci:

“A tendência democrática de escola não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas em que cada cidadão possa se tornar governante”

“Todos os homens são intelectuais, mas nem todos os homens desempenham na sociedade a função de intelectuais”


Nascido em Ales, na ilha da Sardenha, em 1891, numa família pobre e numerosa, Antonio Gramsci foi vítima, antes dos 2 anos, de uma doença que o deixou corcunda e prejudicou seu crescimento. Na idade adulta, não media mais do que 1,50 metro e sua saúde sempre foi frágil. Aos 21 anos, foi estudar letras em Turim, onde trabalhou como jornalista de publicações de esquerda. Militou em comissões de fábrica e ajudou a fundar o Partido Comunista Italiano em 1921. Conheceu a mulher, Julia Schucht, em Moscou, para onde foi enviado como representante da Internacional Comunista. Em 1926, foi preso pelo regime fascista de Benito Mussolini. Ficou célebre a frase dita pelo juiz que o condenou: "Temos que impedir esse cérebro de funcionar durante 20 anos". Gramsci cumpriu dez anos, morrendo numa clínica de Roma em 1937. Na prisão, escreveu os textos reunidos em Cadernos do Cárcere e Cartas do Cárcere. A obra de Gramsci inspirou o eurocomunismo – a linha democrática seguida pelos partidos comunistas europeus na segunda metade do século 20 – e teve grande influência no Brasil nos anos 1970 e 1980.

Co-fundador do Partido Comunista Italiano, Antonio Gramsci foi uma das referências essenciais do pensamento de esquerda no século 20. Embora comprometido com um projeto político que deveria culminar com uma revolução proletária, Gramsci se distinguia de seus pares por desacreditar de uma tomada do poder que não fosse precedida por mudanças de mentalidade. Para ele, os agentes principais dessas mudanças seriam os intelectuais e um dos seus instrumentos mais importantes, a escola.

Alguns conceitos criados ou valorizados por Gramsci hoje são de uso corrente em várias partes do mundo. Um deles é o de cidadania. Foi ele quem trouxe à discussão pedagógica a conquista da cidadania como um objetivo da escola. Ela deveria ser orientada para o que o pensador chamou de elevação cultural das massas, ou seja, livrá-las de uma visão de mundo que, por se assentar em preconceitos e tabus, predispõe à interiorização acrítica da ideologia das classes dominantes.

Ao contrário da maioria dos teóricos que se dedicaram à interpretação e à continuidade do trabalho intelectual do filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), que concentraram suas análises nas relações entre política e economia, Gramsci deteve-se particularmente no papel da cultura e dos intelectuais nos processos de transformação histórica. Suas idéias sobre educação surgem desse contexto.

Para entendê-las, é preciso conhecer o conceito de hegemonia, um dos pilares do pensamento gramsciano. Antes, deve-se lembrar que a maior parte da obra de Gramsci foi escrita na prisão e só veio a público depois de sua morte. Para despistar a censura fascista, Gramsci adotou uma linguagem cifrada, que se desenvolve em torno de conceitos originais (como bloco histórico, intelectual orgânico, sociedade civil e a citada hegemonia, para mencionar os mais célebres) ou de expressões novas em lugar de termos tradicionais (como filosofia da práxis para designar o marxismo). Seus escritos têm forma fragmentária, com muitos trechos que apenas indicam reflexões a serem desenvolvidas.

Leia mais sobre o assunto:








5- KARL MANNHEIM  (1893 - 1947).

MANNHEIM E A LUZ NO FIM DO TÚNEL

Mannheim , filósofo e sociólogo húngaro – germânico – britânico, retoma a formulação de Weber sobre os tipos de educação: pedagogias do cultivo e do treinamento. Acrescenta a essa formulação a perspectiva de um programa para a mudança da educação.

+ Fugindo do pessimismo weberiano, propõe que a sociologia sirva de embasamento teórico para educadores e educandos no objetivo de compreenderem a situação educacional moderna.

+ Para Mannhiem o pensamento social não pode explicar a vida humana, mas apenas expressá-la. O papel da teoria é compreender o que as pessoas pensam sobre a sociedade e não o de propor explicações hipotéticas sobre ela.

+ O autor defendia uma sociedade que fosse essencialmente de democrática, uma democracia de bem-estar social dirigida pelo planejamento racional e governada por cientistas.

+ Mannheim:

- Admite que a racionalização da vida levou a um declínio da educação voltada para a formação do homem integral, mas que o arejamento promovido pela democratização das relações sociais permitiu o surgimento de novas esperanças. Nesse sentido, embora o capitalismo tenha gerado desigualdades sociais, o interesse dos jovens das classes inferiores em ascender socialmente à elite, traz ao processo educacional as contribuições culturais das diferentes camadas sociais e intercomunicação entre elas.

- Percebeu a importância da sociologia na modernidade, para o estudo dos fenômenos educacionais, justamente porque a vida baseada na tradição estava se esgotando. Nas épocas históricas dominadas pela tradição (pré-capitalista) a educação resumia-se a ajudar a criança a ajustar-se à ordem social tradicionalmente estabelecida. Valendo-se da influência da psicanálise, observa que tal processo era apenas de assimilação “inconsciente”, pela criança, do modelo da ordem vigente. Mas quanto mais a tradição vai sendo substituída pela racionalização da vida, provocada pela consolidação da sociedade industrial, mais os conteúdos educacionais devem ser transmitidos num processo “consciente”, em que o educador se aperceba do meio social em que vive e das mudanças pelas quais passa. à Nem os objetivos do processo educacional nem as metas podem ser concebidos sem a consideração do contexto social, pois eles são socialmente orientados.

- Não concordava com a idéia de que a teoria pode existir apenas pela teoria. Achava que a sociologia poderia servir de base para o aprimoramento da educação.

+ ‘Queremos compreender nosso tempo, as dificuldades desta Era e como a educação sadia pode contribuir para a regeneração da sociedade e do homem’ (Mannheim apud Rodrigues, p.82).

+ Regenerar de quê?

Regenerar a sociedade e o homem dos efeitos perversos que vêm embutidos no processo de racionalização detectado por Weber. Valer-se da compreensão dos diferentes tipos históricos de educação, construídos por Weber, para a montagem de uma pedagogia de dê conta de educar o homem moderno sem arrancar-lhe as possibilidades oferecidas por uma formação integral.

- Para Mannheim:

· Não há porque pensar que a pedagogia do cultivo está condenada à morte. Os modos de vida incutidos por esta educação, voltada para a cultura e a erudição, estavam associados ao poder de certas classes privilegiadas “que dispunham de lazer e de energias excedentes para cultivá-la”, e tais classes entraram em declínio com o desenvolvimento do capitalismo e a ascensão da burguesia. Concorda que a educação especializada desintegra a personalidade e a capacidade de compreender de modo mais completo o mundo em que se vive. Mas argumenta que a grande questão educacional da primeira metade do século XX era saber se os valores veiculados por este tipo de formação são exclusivamente dessas classes ociosas ou se podem ser transferidos em alguma media às classe médias e aos trabalhadores.

· O elemento histórico decisivo na abertura das possibilidades na sociedade atual é político: o advento da democracia moderna.

O que seria essa “educação sadia”?

+ Mannheim compreende que:

- Existem tendências no sentido de criar padrões melhores de vida. à Os movimentos da juventude são responsáveis pelo desenvolvimento de um ideal de homem “sincero”, interessado numa relação mais autêntica com a natureza e com os outros. A psicanálise é responsável por um novo padrão de vida, com saúde mental, capaz de deixar o homem livre das repressões adquiridas na formação.

- A modernidade não tem apenas custos, ou ameaças à liberdade. Ela traz também esperanças e valores sociais solidários, abertos.

A principal contribuição de todas as que a moderna democracia é capaz de oferecer é a possibilidade de que todas as camadas sociais venham a contribuir com o processo educacional. E a sociologia é a disciplina, em sua visão, capaz de fazer a síntese dessas contribuições. Por isso é tão importante, para ele, que a sociologia sirva de base à pedagogia. (p.83).

Mannheim era um homem de seu tempo, em busca de um programa de estudos em sociologia da educação que possibilitasse a formulação de projetos educacionais que ampliassem o horizonte do homem, que superasse as divisões em blocos políticos e ideológicos, que não o satisfaziam. (...) (p.83).


BIBLIOGRAFIA
RODRIGUES, Alberto Tosi. Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

6- PIERRE FÉLIX BOURDIEU (1930-2002)

(Denguin, 1 de agosto de 1930 — Paris, 23 de janeiro de 2002) foi um importante sociólogo francês.

De origem campesina, filósofo de formação, chegou a docente na École de Sociologie du Collège de France, instituição que o consagrou como um dos maiores intelectuais de seu tempo. Desenvolveu, ao longo de sua vida, mais de 300 trabalhos abordando a questão da dominação e é, sem dúvida, um dos autores mais lidos, em todo o mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas como educação, cultura, literatura, arte, mídia, lingüística e política. Também escreveu muito analisando a própria Sociologia enquanto disciplina e prática. A sociedade cabila, na Argélia, foi o palco de suas primeiras pesquisas. Seu primeiro livro, Sociologia da Argélia (1958), discute a organização social da sociedade cabila, e em particular, como o sistema colonial interferiu na sociedade cabila, em suas estruturas e desculturação. Dirigiu, por muitos anos, a revista "Actes de la recherche en sciences sociales" e presidiu o CISIA (Comitê Internacional de Apoio aos Intelectuais Argelinos), sempre se posicionado clara e lucidamente contra o liberalismo e a globalização.

Sua discussão sociológica centralizou-se, ao longo de sua obra, na tarefa de desvendar os mecanismos da reprodução social que legitimam as diversas formas de dominação. Para empreender esta tarefa, Bourdieu desenvolve conceitos específicos, retirando os fatores econômicos do epicentro das análises da sociedade, a partir de um conceito concebido por ele como violência simbólica, no qual Bourdieu advoga acerca da não arbitrariedade da produção simbólica na vida social, advertindo para seu caráter efetivamente legitimador das forças dominantes, que expressam por meio delas seus gostos de classe e estilos de vida, gerando o que ele pretende ser uma distinção social.

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Teoria Social

O mundo social, para Bourdieu, deve ser compreendido à luz de três conceitos fundamentais: campo, habitus e capital.

Pensar a relação entre indivíduo e sociedade com base na categoria habitus implica afirmar que o individual, o pessoal e o subjetivo são simultaneamente sociais e coletivamente orquestrados. O habitus é uma subjetividade socializada (Bourdieu, 1992, p. 101). Dessa forma, deve ser visto como um conjunto de esquemas de percepção, apropriação e ação que é experimentado e posto em prática, tendo em vista que as conjunturas de um campo o estimulam.

É no trabalho de Pierre Bourdieu, que encontramos a mais completa renovação sociológica do conceito delineado para transcender a oposição entre objetivismo e subjetivismo: o habitus é uma noção mediadora que ajuda a romper com a dualidade de senso comum entre indivíduo e sociedade ao captar “a interiorização da exterioridade e a exteriorização da interioridade”, ou seja, o modo como a sociedade se torna depositada nas pessoas sob a forma de disposições duráveis, ou capacidades treinadas e propensões estruturadas para pensar, sentir e agir de modos determinados, que então as guiam nas suas respostas criativas aos constrangimentos e solicitações do seu meio social existente.

O habitus fornece ao mesmo tempo um princípio de sociação e de individuação: sociação porque as nossas categorias de juízo e de ação, vindas da sociedade, são partilhadas por todos aqueles que foram submetidos a condições e condicionamentos sociais similares (assim podemos falar de um habitus masculino, de um habitus nacional, de um habitus burguês, etc.); individuação porque cada pessoa, ao ter uma trajetória e uma localização únicas no mundo, internaliza uma combinação incomparável de esquemas.

Através do uso da noção de violência simbólica ele tenta desvendar o mecanismo que faz com que os indivíduos vejam como “natural” as representações ou as idéias sociais dominantes. A violência simbólica é desenvolvida pelas instituições e pelos agentes que as animam e sobre a qual se apóia o exercício da autoridade. Bourdieu considera que a transmissão pela escola da cultura escolar (conteúdos, programas, métodos de trabalho e de avaliação, relações pedagógicas, práticas lingüísticas), própria à classe dominante, revela uma violência simbólica exercida sobre os alunos de classes populares.

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Texto indicado pela professora Sueli
Pedagogia Sociologia da Educação

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